Estamos perto do dia da mulher e, vendo as mensagens nas redes sociais, comecei a refletir e cheguei a uma conclusão: Ser mulher é, no mínimo, difícil. O mundo é ainda um lugar machista. E eu não estou nem pensando em países onde ela ainda não pode estudar, onde existe controle de natalidade e as pessoas matam as meninas porque querem meninos ou onde as viúvas são queimadas com o marido morto ou isoladas da sociedade. Não, eu estou falando de mim, da minha mãe, de você, da minha amiga. Ok, eu talvez achasse difícil ser homem também. Tudo bem, mulher tem um papel incrível frente à natureza como gestar um bebê, algo que só ela pode vivenciar, mas vamos falar do básico, do dia a dia, do feijão com arroz.
Estava assistindo um destes filmes bem “sessão da tarde” (mas bem bacaninha, chama “Não sei como ela consegue”) estes dias, e uma frase ficou na minha cabeça: “Se um homem largar o serviço pra cuidar de um filho, ele é um herói. Se a mulher fizer isso, ela é uma irresponsável”. E não importa que você não pense isso, que bom que não pensa, tivemos um mínimo de educação, mas a sociedade pensa. "Mas vocês não queriam direitos iguais?", perguntariam. Eu não, nunca quis. Mulheres e homens não são iguais, são diferentes, com necessidades diferentes, inclusive perante a lei ou à vida. Queremos sim, oportunidades iguais. A prova de que ainda somos extremamente machistas é que homens raramente tem direito a licença paternidade e, quando tem, o tempo é bem curto. Ou seja, assumimos que a mãe é a única que precisa cuidar aquele tempo inicial do bebê, e que se vire sozinha!
Falando em licença maternidade, 3 meses (ou até 6, nas empresas “boazinhas”) é ridículo. Quer dizer que eu tenho que desmamar meu filho em 3 meses?? Fora que, se não tiver risco, tem que trabalhar até os 9 meses de gravidez. Sim, é bom que esteja tudo bem e trabalhe, mas é incômoda uma barriga enorme pra pegar ônibus ou dirigir (se é que pode...), o trabalho esta época deveria ser opcional, a meu ver. Daí que digo que direitos iguais não servem... homens não engravidam, como equiparar nisso? Fingindo que a mulher não tem uma pessoa de 3Kg na sua barriga? Outra coisa que já ouvi muito, e talvez até tenha dito sem perceber, afinal, machismo nem sempre se percebe quando é tão incrustrado na sociedade: “Ele ajuda a mulher com a casa, que marido ótimo”. Ótimo? A casa não é dele também? Isso não é o mínimo? Porque é tão “óbvio” pra nós que a mulher que se vire com casa e comida e o marido que ajuda é “bom”, ele só está fazendo a parte dele, não deveria ser um princípio básico? Pior ainda quando é “ajuda com o filho”, porque pai não precisa cuidar, né? Ele não é um “bom” pai porque ajuda a cuidar do filho, ele só é pai, oras, teve o filho, cuide também! Pelo menos alguns shoppings e lugares públicos estão começando a ter fraldário unissex, fraldário só no banheiro feminino é um abuso. Quer dizer que pai não sai sozinho com filho? Não troca fralda? O filho não é um apêndice da mãe, é um ser independente. Falta de fraldário unissex é machismo, daqueles incrustrados, que a gente nem percebe.
Outra diferença crucial: menstruação. Muitos homens acham que é desculpa esfarrapada: ai, como eu desejava que eles estivessem na minha pele uma vez ao mês quando eu hora suo frio, hora tenho dores, hora uma enxurrada no meio das pernas. Mulheres (não todas, eu sei, mas muitas) tem ao menos um dia do mês em que estão morrendo de dor, passando mal do estômago pra algumas, com “piriri” pra outras (sim, homens, vem tudo de uma vez na chamada menstruação), com um fluxo tão horrendo que não podem sair de casa, dor de cabeça, etc... ou seja, uma vez ao mês (quando dura um dia só), estamos imprestáveis pra trabalhar. O que se faz? Vai ao médico e pede um atestado porque está menstruada? Isso não dá. Ou a gente se entope de remédio pra aguentar o dia, ou falta e perde grana. Eu acho que deveria existir o direito de faltar uma vez ao mês (sem perder o dia, uma folga), sem necessidade de atestados. Porque isso não existe? Porque nossos direitos trabalhistas teoricamente são “iguais aos dos homens”, e homens não menstruam.
Violência contra mulher, vou nem entrar no assunto. Me recuso. Achar que bater em mulher é legal, é fetiche, é tão grotesco que nem vou falar mais que isso.
Outro ponto não tão crucial, mas não menos machista: beleza, apresentação. Sim, nós podemos chutar o balde e fazer mais nada, não se cuidar, mas nem a gente gosta disso... é difícil traçar a linha de onde fazemos porque nos sentimos bem, onde é pros outros verem. Nem eu saberia traçar essa linha, e não sei se alguém de fato consegue. O fato é que uma mulher tem que estar “apresentável” na maioria do tempo, isso custa tempo e dinheiro. Porém, nem entrando nessa questão mais profunda e problemática, e só pensando num dia de trabalho, mulheres também sofrem mais. Também me lembro de uma cena de um seriado sobre mulheres advogadas em que a protagonista, depois de um dia ruim, estava frustrada porque nem podia lavar o rosto ou estragaria a maquiagem. Isso pelo menos, não me atinge tanto, mulheres que trabalham em empresas, atendendo público devem ter bastante o que reclamar disso. Fora o tempo que se perde a mais de manhã, não é mesmo? Mas ai se ela aparecer “desleixada”, ou é mal vista, ou perde cliente, ou vira comentário, até e principalmente entre as mulheres, população mais machista que os homens. Ainda bem que eu só preciso estar de calça comprida e sapato fechado!
E ir ao clube/praia ou academia? Homens não devem nem fazer idéia do que é parar e pensar: “será que posso?”, “será que estou depilada?” ou “preciso esperar o pelo crescer pra depilar, então não posso usar regata uma semana” (e, claro, aquela semana faz 30°C todo santo dia). Sim, detalhes, mas coisas do dia a dia que, provavelmente, homens não sabem o que passamos para estar ali: bonita, de cabelos compridos, depilada, sem marcar o absorvente, escondendo a cólica em um sorriso... não sabem como é difícil! E lá continuamos nós, equilibrando tarefas, somando jornadas, gastando dinheiro, economizando tempo, enfrentando preconceitos, mantendo o sorriso!
Cammy, só um comentário: uma mulher NUNCA é machista. A gente NÃO se beneficia nunca do machismo, então não o somos. A gente, isso sim, repete o discurso que passamos a vida toda escutando, como se aquilo fosse normal, sem nem perceber. Mulher repete o discurso do opressor, mas não é o opressor. Umas percebem menos a bobagem que estão repetindo, outras mais, a gente tem que se policiar sempre, mas não somos machistas. ;)
ResponderExcluirPode ser... mas tem mulher que oprime as demais e se oprime. Claro, comportamento vindo de uma mentalidade machista da sociedade, mas impressa na postura de muitas.
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