Minha história com a Biologia acho que é algo que merece ser contada, ainda mais hoje, no dia do Biólogo.
Como todo colegial (sim, na minha época se chamava assim), eu não sabia que profissão pretendia seguir e lutava comigo mesma a cada dia mais perto de ter de tomar esta decisão. Duas coisas me atraiam muito: a beleza da arquitetura, design ou desenho industrial e a biologia, matéria que me fascinava e a que mais me dava bem no colégio. Poucas vezes que me achava decidida em ser bióloga, já que era algo que gostava de aprender, me via coberta nos clichês de que se ganha mal, não tem emprego e acaba-se por ser professor. Eu gostava da ideia de dar aula, mas já conhecia os problemas do ensino atual e descartava, portanto, essa ideia. Criada por pais intelectuais das humanas, que tinham mais livros que comidas, às vezes, uma filha querer ser bióloga era algo estranho a eles que estavam acostumados com filosofia, música, ciências sociais, etc...
Em certa altura havia decidido querer trabalhar com análises clínicas (como bióloga ou biomédica), já que, de fato, a área da saúde sempre foi a que mais me atraiu. Ouvi minha mãe me dizer, então: “A gente cria um filho com tanto carinho pra ele analisar xixi e cocô dos outros...”. Ela disse em tom de brincadeira, mas por dentro devia se perguntar de fato aquilo. Inundada pelas incertezas dos clichês que me rodeavam e por me preocupar desde nova em ter uma vida tranquila financeiramente, desisti da Biologia. Resolvi estudar para passar em arquitetura, a outra coisa que me atraía e tinha em meu quarto revistas sobre o assunto.
As vésperas de preencher o formulário de inscrição do vestibular, ainda em certa dúvida, minha mãe sugeriu irmos a uma feira de profissões que ocorria ali perto (eu estava morando no interior esta época). Escolhi o dia com palestra de arquitetura e fomos. Sentei animada na plateia e ao ouvir o palestrante falar sobre arquitetura meu sorriso se desfez. Ele fala de forma fria, sobre mercado, sobre coisas que me pareciam não tão belas quanto às revistas. Talvez tenha sido a escolha de palestrante, talvez eu já relembre subjetivamente, mas me lembro de que saí de lá triste.
As vésperas de preencher o formulário de inscrição do vestibular, ainda em certa dúvida, minha mãe sugeriu irmos a uma feira de profissões que ocorria ali perto (eu estava morando no interior esta época). Escolhi o dia com palestra de arquitetura e fomos. Sentei animada na plateia e ao ouvir o palestrante falar sobre arquitetura meu sorriso se desfez. Ele fala de forma fria, sobre mercado, sobre coisas que me pareciam não tão belas quanto às revistas. Talvez tenha sido a escolha de palestrante, talvez eu já relembre subjetivamente, mas me lembro de que saí de lá triste.
Já que tínhamos o dia pela frente, olhei no programa o que mais poderia ver. “Olha mãe, hoje é a palestra de biologia!”, disse. Ela jura não ter dito isto, mas me lembro da resposta ser: “Você ainda não desistiu disso?”. Enfim, fui assistir. Entra um senhor alegre na sala e começa a falar com entusiasmo. Ele não falava de emprego ou mercado, eu acho. Mas transpassava uma alegria e um amor pela sua profissão que me deixou fascinada. “Quem faz isto, ama mesmo!”, pensei, “e se gosto, será que não é o caminho para trabalhar com o que amo?”. De novo, talvez tenha sido uma mera escolha certa de palestrante, mas aquela escolha e aquela palestra estavam prestes a mudar meu rumo. Ao chegar em casa, preenchi todos os formulários, opção: Ciências Biológicas.
Não passei de primeira em nenhum. Em um fiquei na lista de espera, em outro vagas remanescentes. Como disse, morávamos no interior na época e tínhamos que decidir voltar pra capital ou continuar. Não tendo sido chamada em nenhuma faculdade, minha mãe ficava sem saber e me conta uma história interessante sobre encontrar a imagem de um santo que gostava e pedir intercessão para decidir o caminho. Milagre, coincidência ou não, no dia seguinte me ligaram da Unesp para me matricular. Feliz, pintada, alegria imensa, fui ter o primeiro dia de aula. Odiei. É claro que em uma aula eu não podia odiar o curso, mas odiei a cidade e a possibilidade de morar ali sozinha (reflexo de uma futura síndrome do pânico que é outra longa história e de ter morado um ano sem amigo algum no interior) e acabei criando uma mentira pra mim mesma que só depois soube reconhecer. Contei a mentira para minha mãe: “Não quero biologia, decidi que quero arquitetura. Quero voltar para São Paulo e fazer cursinho”. Dito e feito.
Não passei de primeira em nenhum. Em um fiquei na lista de espera, em outro vagas remanescentes. Como disse, morávamos no interior na época e tínhamos que decidir voltar pra capital ou continuar. Não tendo sido chamada em nenhuma faculdade, minha mãe ficava sem saber e me conta uma história interessante sobre encontrar a imagem de um santo que gostava e pedir intercessão para decidir o caminho. Milagre, coincidência ou não, no dia seguinte me ligaram da Unesp para me matricular. Feliz, pintada, alegria imensa, fui ter o primeiro dia de aula. Odiei. É claro que em uma aula eu não podia odiar o curso, mas odiei a cidade e a possibilidade de morar ali sozinha (reflexo de uma futura síndrome do pânico que é outra longa história e de ter morado um ano sem amigo algum no interior) e acabei criando uma mentira pra mim mesma que só depois soube reconhecer. Contei a mentira para minha mãe: “Não quero biologia, decidi que quero arquitetura. Quero voltar para São Paulo e fazer cursinho”. Dito e feito.
Meu pai, relutante em pagar o cursinho, já nas turmas de maio, me perguntava se eu havia desistido da outra faculdade onde me encontrava em 10º na lista de vagas remanescentes. Vagas remanescentes! Dez pessoas teriam de desistir do curso... e àquela altura do ano?? Bobagem apostar nisso. E, afinal, eu tinha “decidido” pela arquitetura. Não sabia que por causa de uma greve, as pessoas de fato estavam desistindo das vagas e as aulas daquela universidade mal tinham começado. Porém, comecei meu cursinho. Três semanas depois de acordar 5 da matina e pegar 2 conduções para estudar como maluca (algo que nunca havia feito em minha vida), fiquei doente. Novamente minha mãe pensou: “isso não pode estar certo, ela vai sofrer demais”. E resolveu rezar ao mesmo santo de antes pedindo outra luz. Minha tia que morava na cidade da Universidade Federal que eu estava em espera estava há 10 anos tentando engravidar. No dia seguinte do pedido de minha mãe, ela nos liga dizendo: “Tenho 2 notícias: estou grávida e a Camila passou na federal”.
Pensei: “Tá bom, Deus! Vou ser bióloga!”. Brincadeiras a parte, acreditando ou não em destino, sinal divino ou achando apenas tudo uma mera coincidência, as coisas pareciam de fato conspirar pra que eu tentasse a biologia. Resolvi ir mais pela gravidez da minha tia. Fui, já às pressas, pois o telegrama chegara por sorte às mãos da minha tia por meio de um porteiro do endereço que eu morava ao fazer a inscrição no vestibular e nisso passavam-se as 48 horas que eu tinha para me matricular. E descobri que era realmente o que eu queria. Me descobri apaixonada pela faculdade, pelas pessoas de lá e pela biologia.
Pensei: “Tá bom, Deus! Vou ser bióloga!”. Brincadeiras a parte, acreditando ou não em destino, sinal divino ou achando apenas tudo uma mera coincidência, as coisas pareciam de fato conspirar pra que eu tentasse a biologia. Resolvi ir mais pela gravidez da minha tia. Fui, já às pressas, pois o telegrama chegara por sorte às mãos da minha tia por meio de um porteiro do endereço que eu morava ao fazer a inscrição no vestibular e nisso passavam-se as 48 horas que eu tinha para me matricular. E descobri que era realmente o que eu queria. Me descobri apaixonada pela faculdade, pelas pessoas de lá e pela biologia.
Hoje, mais de seis anos depois de me formar, acho engraçado o caminho tortuoso que me levou a minha profissão e me vejo como aquele velhinho que entrara na palestra de biologia com um grande sorriso, amando o que faz. Recordo-me que devia ter ouvido meus instintos desde pequena, pois, aos 11 anos, lembro-me de quase chorar de emoção ao ver uma célula de cebola ao microscópio. Não ganho mal, não dou aula. Descobri que biólogos fazem muito mais que isso. Aliás, fazem tão mais que é até difícil escolher sua área dentro da própria biologia. Faço pesquisa, em saúde, o que já gostava. Faço o que amo, sou bióloga.
Parabéns a todos nós, biólogos, que, apesar dos obstáculos, fazemos o que amamos e é tão belo: estudar a vida!!!!
Oi, Cammy!
ResponderExcluirTudo bom?
tentei te achar no face, não consegui.
Quero elogiar seu texto e dizer que fiquei muito feliz depois de ter lido, parece incrível mas eu estava ou estou na mesma situação, mil pessoas falando pra mim desistir da Biologia, aqueles mitos ... e minha eterna dúvida sobre o curso. Minha estória é bem parecida com a sua. Quando já tinha entrado no cursinho e desistido da Biologia, sem esperar fui chamada. Isso a gente poderia conversar depois! rs
Na verdade queria muito poder te perguntar algumas coisas, vou deixar meu e-mail e se você tiver face deixe o link pra mim??
POR FAVOR, to precisando muito de uma conversa com alguém assim.
Atenciosamente, Isa Mendes.
Oi, Isa, legal saber que se identificou. Claro que posso conversar,mas você não deixou seu email... se quiser, me mande em cammybio02@yahoo.com.br, ok?
ResponderExcluirOI! Gostei muito do seu texto e me identifiquei, pois estou prestes a entrar na faculdade de Biologia, só q tem um problema me inscrevi no curso de Design da Federal que é outra coisa que quero muito e se eu conseguir passar não vou saber o que cursar!! Queria falar com vc pra tirar algumas dúvidas do curso de Biologia! Tá aí meu face https://www.facebook.com/wagnerporto02 se puder me add =] obg
ResponderExcluirDesculpa, só vi agora!!! Prestou biologia?
ExcluirOi, Cammy muito bom seu texto. Queria te fazer umas perguntinhas, também sou Bióloga, me formei há quase 4 anos, fiz mestrado e conclui há 6 meses, ainda não consegui trabalho e estou numa dúvida danada se faço doutorado ou tento outra facul.No momento estou estudando pra concursos públicos.
ResponderExcluirAgora sobre você, onde você trabalha? Vi que não dá aulas, por quê? Por que não gosta? Ou nunca precisou? Eu não gostaria de dar aulas, talvez só em último caso, não me sinto muito a vontade com isso.
Aguardo sua resposta.
Nossa, nunca mais entrei aqui e estou vendo esse comentário 3 anos atrasada!!! Desculpa!!!
ExcluirEu trabalho em um laboratório de pesquisa desde 2010, que me toma o dia todo por isso não penso em dar aula, mas quem sabe futuramente...
Oi, Cammy muito bom seu texto. Queria te fazer umas perguntinhas, também sou Bióloga, me formei há quase 4 anos, fiz mestrado e conclui há 6 meses, ainda não consegui trabalho e estou numa dúvida danada se faço doutorado ou tento outra facul.No momento estou estudando pra concursos públicos.
ResponderExcluirAgora sobre você, onde você trabalha? Vi que não dá aulas, por quê? Por que não gosta? Ou nunca precisou? Eu não gostaria de dar aulas, talvez só em último caso, não me sinto muito a vontade com isso.
Aguardo sua resposta.
Parabéns.Amei.Que trajetória complicada,mas deu tudo certo.Por momentos fiquei emocionada,por outros sorri,em todos torci para Vc fazer o que realmente gosta.bjos
ResponderExcluirObrigada!!!!
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