23.1.14

Solte do braço da poltrona e olhe a janelinha - como os mecanismos de defesa podem nos atrapalhar

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O medo em demasia paralisa. O medo em pequenas doses é necessário, é um instinto, mas não é deste que estou falando, deixemos claro. Quando algo nos amedronta, criamos mecanismos de defesa, em geral para podermos nos apegar a algo e sobreviver àquele medo. Como alguém que se agarra à poltrona de um avião com medo de voar. Isso é normal, nada demais e, de certa forma, a melhor forma que encontramos para sobreviver aquele momento de pavor. O problema é quando esse “apego” vira habitual, mesmo quando o medo não é tanto... aí é que está o problema.


Veja bem, vou dar o meu exemplo, da onde tirei a necessidade de compartilhar o assunto: em frente a coisas que me assustam eu sempre precisei traçar objetivos, planejar, racionalizar. Se eu me vejo sobrecarregada no trabalho, faço lista de tarefas, calendários. Se as coisas não estão sob meu controle (uma das coisas que me assusta é a falta de controle... haja terapia!), eu traço objetivos e me apego a eles. Até aí tudo bem, é até uma forma bem produtiva de lidar com isso tudo, mas, com o tempo, o amadurecimento e várias sessões de terapia, o medo do imprevisível diminui. Se tornou suportável. Deixou de ser aquele medo paralisante (amém!). Porém, eu continuei precisando de objetivos e planos como se eles fossem vitais a minha felicidade. Me apeguei ao “criar objetivos” tão fortemente, que continuei apegada depois que o medo passou. Voltando à metáfora do avião, seria como a pessoa que se agarra à poltrona mesmo depois de ter superado o medo de voar, só porque essa sempre foi a forma que ela entrou em um avião.

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Mas quando a gente se agarra na poltrona, tudo ao redor passa despercebido. A pessoa com medo do avião, agarrada ali, não vê os outros passageiros, não se permite ver as nuvens da janelinha, não toma o refrigerante servido com gosto, não sabe se seu assento estava confortável ou desconfortável. Porque ela não tem atenção para mais nada, além de se agarrar firme no braço da poltrona. Até mesmo o próprio braço da poltrona ela não saberia dizer de que cor é ou de que é feito, porque ele era só um objeto de segurança. Até aí, novamente, tudo bem. Foi isso que ela precisou pra sobreviver àquela fobia de altura? Que bom que funcionou. Contudo, eis que o medo paralisante não existe mais e ela poderia fazer tudo isso (olhar na janela, beber refrigerante, sentir seu assento, conversar com outras pessoas), mas não fez porque só sabe voar agarrada na cadeira. Ela deixa de viver dentro daquele momento, só esperando passar. O que é válido quando se tem um medo paralisante e se quer que ele passe, porém, se o mecanismo de defesa perdura o medo, nunca mais ela viverá aquele momento, esperando que passe.

E quando nosso medo é muito mais amplo que fobia de avião, quando ele tem a ver com o que a vida nos traz, como meu exemplo e aposto que o de muitos mais, se nos apegamos a nossa poltrona, deixamos de viver todos nossos momentos, o presente, só esperando passar. E passa, a vida passa com você agarrado ao braço da poltrona sem ver que lindo era o céu na janelinha. A vida passa enquanto eu procuro objetivos para sobreviver a ela quando não precisava mais e não vivo. Não vejo as pessoas ao meu redor, não aprecio onde estou, não presto atenção na paisagem da janela, não aproveito, só espero. O avião é apenas uma metáfora, o imprevisível é apenas meu exemplo. Mas tenho certeza que existem outros diversos exemplos, até mesmo sem que você se dê conta que aquilo a que está se apegando era apenas um mecanismo de defesa e não sua real necessidade. Não vou tentar enumerá-los, convido cada um a analisar em sua própria vida. E, se encontrar, junte suas forças, solte a poltrona e olhe na janelinha.



Cammy 

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