Tenho um defeito que venho tentando me libertar ao longo dos
anos: o medo de falhar, a impossibilidade de desistir. Claro, esse sentimento
em mim deve ter raízes muito mais profundas como o desejo de agradar, a
necessidade de ser melhor em tudo que posso, etc... Coisas que ficam pras
minhas sessões de terapia. Mas, de certa forma, é uma ideia embutida pelo mundo
atual em todos nós. Não se pode mudar de opinião, escapar do regime, perder
prazos, perder um ano, mudar de curso... Sim, existem aqueles seres mais
evoluídos e livres destas pressões (alguns até demais?), porém muitos de nós
sofremos essa regularização de que devemos sempre “ir até o fim”.
Está gordo? Faça exercícios. Não conseguiu o resultado? É
uma pessoa fracassada sem disciplina. Desistiu do curso? Você não tem força de
vontade. Relaxou na dieta? Sem perdão. Desistiu do emprego que não dava certo?
Vagabundo... Prestou várias vezes o vestibular e não passou? Fracassado. Em
inglês existe inclusive um termo pras pessoas que sempre desistem: Quitter (em
português o mais próximo seria desertor, talvez... mas quer dizer aquele que
desiste com facilidade). E ser um quitter nunca é bom, é algo pejorativo.
A minha vida inteira levei tudo a sério demais, não me
permitia ser uma quitter. Não me acostumei com fracassos: nunca peguei
recuperação, nunca repeti de ano, passei direto do terceiro ano em uma
universidade pública, terminei ela sem nenhuma DP, entrei no mestrado, terminei
ele antes do prazo, passei em um concurso. Pior, quando começo algo me sinto forçada
por mim mesma a fazer da melhor forma. E chega uma hora que isso é cansativo
demais. Deixa de ser algo que poderia ser considerado uma qualidade e passa a
ser um defeito, um defeito que faz mal a nós mesmos.
Comecei a pensar isso quando comecei a fazer musculação este
mês, somada a natação. 4 dias seguidos de exercícios estavam me matando e eu
não estava feliz. Eu não tinha tempo pra mais nada, mas a ideia de largar o que
eu comecei me assombrava. Quitter!! Mas, afinal, não era pra minha saúde o
exercício? Minha saúde atualmente me pede mais liberdade. De escolha, de não
fazer nada se eu quiser, de compromissos. Pensei, pensei... e, eis que quando
resolvo desistir, me vêm a mente a decepção do professor. Que pode representar
o que qualquer um pensaria de mim. Confesso, isso ainda me incomoda e, mais uma
vez, é assunto pra terapia, contudo, resolvi apertar aquele botãozinho mágico: o
“foda-se”.
Não é um botão fácil de encontrar em nós e não adianta apertar
uma vez só... porém é um botão necessário. E daí que vou desistir de algo? E
daí que não vou fazer o que acham que é melhor pra minha saúde e sim o que eu acho
que é? E daí que não vou ser persistente? E daí que vou desistir? Na verdade, é
só uma questão de perspectiva: se eu rejeitasse minha vontade e situação
presente, eu estaria desistindo de mim. Essa é a única coisa que realmente vale
ser fiel e persistir, em você. No que você quer e não no que “deveria”. Não
atender minha necessidade atual de liberdade seria falhar comigo mesma. Então,
escolho falhar em outras coisas pra não desistir de mim.
ps. Pra ver como existe a "filosofia do não desistir", procurando imagens só apareciam frases de auto-ajuda de "não desista", "seja persistente", etc...
Cammy
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