15.8.13

Não se contente com a beleza da superfície... mergulhe!

Hoje vou me intrometer em um campo mais complexo, a religião. Não que eu saiba muito, até por isso, trouxe a experiência da leitura de textos de quem sabe mais que eu. Especificamente trato aqui do cristianismo, mas, qualquer um em outra religião (ou até para outros fatores da vida) pode usar este trecho para pensar um pouco. No fundo, ele nos diz sobre como tratamos estes aspectos da vida de forma superficial. É muito comum, aliás, no mundo moderno, as pessoas se contentarem com “filosofias de botequim” que, de fato, podem vir de grandes filósofos e fazerem parte de uma linha de pensamento, mas elas não costumam ir a fundo neste pensamento, se contentam (por preguiça, ignorância, medo... tantas razões) com apenas um vislumbre dele. O mesmo vale para religião, quantos se dizem “religiosos” mas não adeptos de alguma religião? Pois, na verdade, não querem ir a fundo em nenhuma delas.

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Veja bem, digo por experiência própria. Vivi muitos anos evitando qualquer leitura mais profunda, qualquer conhecimento maior por todos os motivos citados a cima. Principalmente, pois, no fundo, sabemos que, se nos aprofundarmos em alguma religião ou filosofia verdadeira, iremos mudar nosso cerne, teremos de mexer com questões que serão incômodas e acabamos ficando acomodados com o conhecimento superficial. Que surpresa a minha quando, resolvendo estudar mais a minha religião, encontrei respostas tão simples e tão reconfortantes. Encontrei também diversos pontos incômodos para minha pessoa tão constante, mas comecei a vislumbrar algo tão maior, que isso não é mais um problema. Convido vocês, então, a saírem um pouco da zona de conforto e se aprofundarem nos assuntos sobre espiritualidade/filosofia que lhe agradem. Afinal, a superfície de um lago ou do oceano é linda, mas quão mais bela é a vida que encontramos quando mergulhamos pro fundo da água?


O trecho que trago aqui é de C. S. Lewis, do livro “Cristianismo puro e simples”, mas é o início de um capítulo sobre teologia e trata exatamente do que disse antes: a necessidade de nos aprofundarmos naquilo. Portanto, sinta-se a vontade de extrapolar para sua religião particular caso não seja cristão. Ou, caso sinta curiosidade, use o texto para conhecer um pouco sobre cristianismo. Se você, leitor, for cristão, peço atenção especial, use este trecho para aumentar em você a curiosidade pela teologia, como fiz. Sem mais delongas, deixo que a linguagem fluente e didática de Lewis fale com cada um, segue o tal trecho:

“Todos me aconselharam a não lhes dizer o que vou dizer neste último livro. Afirmam: "O leitor comum não quer saber de Teologia; dê-lhe somente a religião simples e prática." Rejeitei o conselho. Não acho que o leitor comum seja um tolo. Teologia significa "a Ciência de Deus", e creio que todo homem que pensa sobre Deus gostaria de ter sobre ele a noção mais clara e mais precisa possível. Vocês não são crianças: por que, então, lhes tratar como tal? Em certo sentido, até compreendo por que algumas pessoas se sentem desconcertadas ou até incomodadas pela Teologia. Lembro-me de certa ocasião em que dava uma palestra para os pilotos da R.A.F. e um oficial velho e rijo levantou-se e disse: "Nada disso tem serventia para mim. Mas saiba que também sou um homem religioso. Sei que existe um Deus. Sozinho no deserto, à noite, já senti a presença dele: o tremendo mistério. E é exatamente por isso que não acredito em todas essas fórmulas e esses dogmas a respeito dele. Para qualquer um que tenha conhecido a realidade, todos eles parecem mesquinhos, pedantes e irreais."

Ora, num sentido, até concordo com esse homem. Creio que ele provavelmente teve uma experiência real de Deus no deserto. Quando se voltou da experiência para o credo cristão, acho que realmente passou de algo real para algo menos real. Da mesma maneira, um homem que já viu o Atlântico da praia e depois olha um mapa do Atlântico também está trocando a coisa real pela menos real: troca as ondas de verdade por um pedaço de papel colorido. Mas é exatamente essa a questão. Admito que o mapa não passa de uma folha de papel colorido, mas há duas coisas que devemos lembrar a seu respeito. Em primeiro lugar, ele se baseia nas experiências de centenas ou milhares de pessoas que navegaram pelas águas do verdadeiro oceano Atlântico. Dessa forma, tem por trás de si uma massa de informações tão reais quanto a que se pode ter da beira da praia; com a diferença que, enquanto a sua é um único relance, o mapa abarca e colige todas as experiências de diversas pessoas. Em segundo lugar, se você quer ir para algum lugar, o mapa é absolutamente necessário. Enquanto você se contentar com caminhadas à beira da praia, seus vislumbres serão mais divertidos que o exame do mapa; mas o mapa será de mais valia que uma caminhada pela praia se você quiser ir para os Estados Unidos [Lewis morava no Reino Unido].

A Teologia é como o mapa. O simples ato de aprender e pensar sobre as doutrinas cristãs, considerado em si mesmo, é sem dúvida menos real e menos instigante do que o tipo de experiência que meu amigo teve no deserto. As doutrinas não são Deus, são como um mapa. Esse mapa, porém, é baseado nas experiências de centenas de pessoas que realmente tiveram contato com Deus - experiências diante das quais os pequenos frêmitos e sentimentos piedosos que você e eu podemos ter não passam de coisas elementares e bastante confusas. Além disso, se você quiser progredir, precisará desse mapa. Note que o que aconteceu com aquele homem no deserto pode ter sido real e certamente foi emocionante, mas não deu em nada. Não levou a lugar nenhum. Não há nada que possamos fazer. Na verdade, é justamente por isso que uma religiosidade vaga — sentir Deus na natureza e assim por diante — é tão atraente. Ela é toda baseada em sensações e não dá trabalho algum: é como mirar as ondas da praia. Você jamais alcançará o Novo Mundo simplesmente estudando o Atlântico dessa maneira, e jamais alcançará a vida eterna sentindo a presença de Deus nas flores ou na música. Também não chegará a lugar algum se ficar examinando os mapas sem fazer-se ao mar. E, se fizer-se ao mar sem um mapa, não estará seguro."

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Não é verdade? Eu me senti profundamente provocada a seguir de forma mais profunda quando li isto. O trecho que segue, diz mais respeito ao cristianismo em si:

"Em outras palavras, a Teologia é uma questão prática, especialmente hoje em dia. No passado, quando havia menos instrução formal e menos discussões, talvez fosse possível passar com algumas poucas ideias simples sobre Deus. Hoje não é mais assim. Todo mundo lê, todo mundo presta atenção a discussões. Consequentemente, se você não der atenção à Teologia, isso não significa que não terá ideia alguma sobre Deus. Significa que terá, isto sim, uma porção de ideias erradas — ideias más, confusas, obsoletas. A imensa maioria das ideias que são disseminadas como novidades hoje em dia são as que os verdadeiros teólogos testaram vários séculos atrás e rejeitaram. Acreditar na religião popular moderna da Inglaterra [onde Lewis estava, mas vale para qualquer lugar] é a mesma coisa que acreditar que a Terra é plana — um retrocesso. Pois, na prática, a ideia popular de cristianismo é simplesmente esta: Jesus Cristo foi um grande mestre da moral e, se seguíssemos seus conselhos, conseguiríamos estabelecer uma ordem social melhor e evitar uma nova guerra. Saiba que isso tem seu fundo de verdade. Mas é muito menos que a verdade integral do cristianismo, e na realidade não tem importância prática alguma.

É verdade que, se seguíssemos os conselhos de Cristo, viveríamos em breve num mundo mais feliz. Nem precisaríamos ir tão longe: se déssemos ouvidos ao que disseram Platão, Aristóteles ou Confúcio, estaríamos muito melhor do que estamos. E daí? Nunca seguimos os conselhos dos grandes mestres. Por que começaríamos a segui-los agora? E por que estaríamos mais dispostos a ouvir a Cristo que aos outros? Porque ele é o melhor mestre da moral? Com isso, é ainda menos provável que o sigamos. Se não conseguimos aprender nem as lições elementares, como passaremos às mais adiantadas? Se o cristianismo não passa de mais um bocado de conselhos, ele não tem importância nenhuma. Não nos faltaram bons conselhos nos últimos quatro mil anos. Um pouquinho mais não faz diferença. 
 
No entanto, logo que nos debruçamos sobre os verdadeiros escritos cristãos, vemos que eles falam de algo inteiramente diferente dessa religião popular."

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Se você é cristão (veja bem, católico, protestante, ortodoxo.... não importa, cristão!) e se interessou, o livro todo é muito interessante e nos fala de forma clara e didática de coisas que, na nossa cabeça, podem estar confusas, aconselho a todos, até quem apenas tiver curiosidade sobre o cristianismo. Não fala de regras, de igrejas... é apenas o início do conhecimento para um cristão, como diz o título "Cristianismo puro e simples". Mas, sendo este livro ou outro, sendo esta religião ou outra, tome a provocação e vá a fundo! Mergulhe e não se contente em ficar na superfície, é lá no fundo que as coisas belas acontecem.

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Cammy

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