Não sei, o mundo anda estranho. Problemas de autoestima sempre existirão, mas me parece que, atualmente, é melhor mudar o efeito que a causa. Não falo só de aparência. As pessoas preferem fazer o que tinham dito valer, virar realidade, que mudar de opinião. Preferem fazer algo errado se tornar aceitável que se desculpar e admitir um erro. Preferem fingir que têm 10 anos a menos em vez de aceitar a idade verdadeira. Preferem mudar o corpo inteiro a mudar a forma de se ver. Sou extremamente a favor de estarmos bem com a nossa forma física, mas acho um tanto problemático quando o que mudamos o tempo todo é a forma física e não como nos vemos. Hoje em dia é mais fácil mudar por completo, se anular, assassinar sua personalidade e liberdade de ser do que ser algo além do “aceitável”.
Todos querem ter dinheiro, carreira, sucesso, beleza, corpo perfeito, juventude, razão... querem entrar num molde pré-fabricado, sem nenhuma personalidade e se encaixar a força. Qual a graça de um mundo com todos iguais, estáticos? Ninguém quer se olhar e ver como é bonito daquele jeito, quais são seus pontos fortes. Querem se olhar e ver aquela imagem pré-fabricada de beleza. Não querem contar o que aprenderam nos últimos 10 anos, ou como a vida dos 20 e dos 30 pode ser diferente e interessante. Querem contar que tem uma idade aceitável pra se dizer jovem. Não querem demonstrar como depois de uma análise mudaram de opinião, querem parecer firmes com uma opinião constante, mas vazia e inválida. Na verdade, me parece muito que não querem aproveitar a vida que se apresenta, mas fingir que vivem outra.
E por quê? Só podem existir duas possibilidades: ou queremos enganar os outros ou a nós mesmos. Se for pelos outros, é uma necessidade de agradar, de estar agradável aos olhos alheios, sem cabimento. O outro nada pode dizer de você que não seja subjetivo, pois quando ele te vê (não só no sentido físico, mas te conhece), ele tem uma carga enorme de comparações, gostos e vivência que influenciam no que ele vai achar de você. E cada um tem uma carga diferente, portanto, me parece uma insanidade completa querer ser agradável aos olhos alheios, já que são tantos olhos pra agradar de formas diferentes. Bom, talvez as pessoas então partam pra agradar a maioria, ou pra ser agradável da forma com que a mídia, a moda, seja lá o que for, diga que é o mais agradável, o que não deve amenizar nada. E se for pra nos enganar? Aí é enganar mesmo, já que, quando enganamos os outros, pelo menos, no fundo, sabemos quem somos. É dizer pra você que você é outra pessoa. Uma que você acha que é melhor, mas, da mesma forma que o no dos outros, é um olhar subjetivo. E, pior ainda, você deixa de viver porque não se pode viver quem não se é.
Como é bom saber meus defeitos e minhas qualidades e usá-los como posso. Como é bom conhecer quem sou e viver de acordo. É tão mais leve. Como é bom saber que eu não sou perfeita, não sou impecável, não sou infalível, não sou linda a todos os olhos, que não serei jovem pra sempre, que sou humana. Não sou a dona da razão também, não sei todas as respostas. Caio na armadilha do molde vez em quando (mas cada vez menos no decorrer dos anos) e me pego querendo agradar aos outros e a mim mesma muitas vezes. Mas eu percebo que algo está errado, porque é uma vida mais cansativa, mais pobre e menos alegre. Logo percebo, tento me recompor e as coisas fluem melhor. Outro perigo é querer estar tão no controle dessas situações que isso vira seu molde e se esforça pra estar assim o tempo todo. Ou, pior, fingir que controla isso e no fundo não se aceite coisa nenhuma. Fingir que se aceita como é, é tão enganação quanto. Acho que o ponto principal é: não se engane e não tente enganar ninguém. Viva a sua forma e se permita ser você. Vai perceber que isso agrada muito mais aos outros e - principalmente e mais importante - a você mesmo.
Cammy
*o título se refere a uma música dos Paralamas do Sucesso.
Cammy
*o título se refere a uma música dos Paralamas do Sucesso.
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