Tenho postado textos que escrevi antigamente chamando de "arquivo mental". Hoje tenho um especial que achei nos documentos do computador. Há 6 anos, eu perdia meu pai. Há 6 anos, sem aviso algum, da noite pro dia, a idéia que não passava pela minha cabeça, mas assombrava meus pesadelos se concretizou. Tão sem motivos e tão sem querer que piora a dor. A perda de alguém que amamos tanto traz 2 principais dores: a da perda e a da saudade. A da perda é mais aguda, fulminante. Aparece de vez em quando e dói como uma pontada, mas passa. A dor da saudade é crônica, nunca deixa de se fazer presente e te lembra que existe a cada pequeno detalhe. Dói de forma mais contínua e menos pontual. É sobre ela meu texto de um dia dos pais em algum ano passado.
"Querido Pai,
Tenho saudade. Das grandes coisas, mas no dia-a-dia, cada vez mais me lembro das pequenas. Como o seu assovio que já tinha esquecido como era e algo me fez lembrar. O que me lembrou, também, sua buzina pra me chamar e me fez pensar como gostávamos de nos comunicar com sons. Mas não era qualquer um, pelo toque, pela nota, pelo estilo, eu sempre reconhecia o do meu pai.
Tenho saudade de quando segurava meus braços de pequena e fazia cosquinha na minha barriga com seu nariz por mais que eu implorasse pra parar. De quando eu enxugava um beijo molhado na bochecha na adolescência e você de pirraça me lambia. De todas as piadas, as que eu morria de rir e as que eu olhava com cara de “ai” pra você que respondia “você tem ou não tem o pai mais engraçado do mundo?”.
Realmente, eu tinha um “pailhaço”, como te escrevi uma vez. Você nunca foi do perfil disciplinador, nunca me deu bronca ou me bateu e raramente brigou comigo. Brigas, aliás, que eu detestava, pois você era cínico e eu gostava de discutir, mas até disso sinto falta. Falta das discussões sobre assuntos mais profundos, que nunca eram brigas, pois ambos sabíamos respeitar nossas opiniões. E você apreciava minha paixão nas discussões.
Tenho saudade. Das grandes coisas, mas no dia-a-dia, cada vez mais me lembro das pequenas. Como o seu assovio que já tinha esquecido como era e algo me fez lembrar. O que me lembrou, também, sua buzina pra me chamar e me fez pensar como gostávamos de nos comunicar com sons. Mas não era qualquer um, pelo toque, pela nota, pelo estilo, eu sempre reconhecia o do meu pai.
Tenho saudade de quando segurava meus braços de pequena e fazia cosquinha na minha barriga com seu nariz por mais que eu implorasse pra parar. De quando eu enxugava um beijo molhado na bochecha na adolescência e você de pirraça me lambia. De todas as piadas, as que eu morria de rir e as que eu olhava com cara de “ai” pra você que respondia “você tem ou não tem o pai mais engraçado do mundo?”.
Realmente, eu tinha um “pailhaço”, como te escrevi uma vez. Você nunca foi do perfil disciplinador, nunca me deu bronca ou me bateu e raramente brigou comigo. Brigas, aliás, que eu detestava, pois você era cínico e eu gostava de discutir, mas até disso sinto falta. Falta das discussões sobre assuntos mais profundos, que nunca eram brigas, pois ambos sabíamos respeitar nossas opiniões. E você apreciava minha paixão nas discussões.
Não era disciplinador, mas era carinhoso. Saudade de quando eu passava mal (quase sempre aos fins de semana depois de comer muita porcaria, aliás, saudade de comer muita porcaria com você) e me levava água de coco na casa da minha vó. Ou quando levava o remédio pra febre e ficava comigo em casa... Claro que quem cuidava de mim era minha mãe, mas sua companhia era remédio.
Saudade das vezes que tinha uma novidade e não via a hora de te contar. Até hoje ainda penso quando algo acontece “preciso contar pro meu pai!”, falha do meu cérebro de alguns segundos. Saudades das suas célebres frases, como “nem tudo que se quer, se pode” ou “o que você não me pede sorrindo que não faço chorando”, e mais tantas outras que, até hoje, eu me lembro e digo “como dizia meu pai...”
Saudade dos passeios, dos parques, das jantas, dos shoppings, dos inúmeros filmes, das idas no carrinho de bate-bate, do fliperama, dos campeonatos religiosos e acirrados de pebolim. De quando você dizia que chegava às 14h e chegava às 16h. De quando tínhamos que correr embora porque você tinha dor de barriga. De quando me dava 1 real pra janta e dizia “traz o troco”. De quando me ouvia cantar no carro orgulhoso ou contar minhas notas. Queria que tivesse visto alguma apresentação, meu mestrado, meu emprego tão interessante (embora você quisesse que eu fosse geneticista... não deixo de ser, só que de bactérias), meu namorado... Queria que tivesse visto tanto mais, mas a vida não nos deixou, e são as pequenas coisas que guardo no dia-a-dia te fazendo vivo eternamente comigo."
Saudade das vezes que tinha uma novidade e não via a hora de te contar. Até hoje ainda penso quando algo acontece “preciso contar pro meu pai!”, falha do meu cérebro de alguns segundos. Saudades das suas célebres frases, como “nem tudo que se quer, se pode” ou “o que você não me pede sorrindo que não faço chorando”, e mais tantas outras que, até hoje, eu me lembro e digo “como dizia meu pai...”
Saudade dos passeios, dos parques, das jantas, dos shoppings, dos inúmeros filmes, das idas no carrinho de bate-bate, do fliperama, dos campeonatos religiosos e acirrados de pebolim. De quando você dizia que chegava às 14h e chegava às 16h. De quando tínhamos que correr embora porque você tinha dor de barriga. De quando me dava 1 real pra janta e dizia “traz o troco”. De quando me ouvia cantar no carro orgulhoso ou contar minhas notas. Queria que tivesse visto alguma apresentação, meu mestrado, meu emprego tão interessante (embora você quisesse que eu fosse geneticista... não deixo de ser, só que de bactérias), meu namorado... Queria que tivesse visto tanto mais, mas a vida não nos deixou, e são as pequenas coisas que guardo no dia-a-dia te fazendo vivo eternamente comigo."
Seis anos passaram e é tão pouco perto da falta que sinto e tanto tempo perto da memória de perdê-lo como se fosse ontem. Desculpem o artigo "deprê", mas essas coisas são parte da vida e temos que lidar com elas. Hoje em dia tenho menos a dor aguda da perda e mais a crônica da saudade. Saudade nem sempre dói triste, eu reli meu texto com lágrimas nos olhos e um sorriso nos lábios, lembrando como gostava de tudo isso. Eu tenho mais calma e serenidade após esses 6 anos, mas aposto que levarão 600 pra amenizar qualquer coisa.
Cammy
belo texto, as boas lembranças das pessoas que nos deixam e que nos dão força para continuar vivendo
ResponderExcluirObrigada!
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